Tal decisão choca a modernidade como um todo.
Não se tem dúvida que a base da moral e da religião em todo o mundo ocidental
é o cristianismo. Mais ainda, o cristianismo tem provado aos quatro
cantos do planeta que seu fundamento baseado na convivência harmoniosa,
plural, conciliatória, entre outros atributos ou predicados, tem servido
para uma cultura ocidental que se alastra já desde tempos.
Seja
como for, o cristianismo fundamenta tanto a religião quanto a cultura
do ocidente. Posso até afirmar, sem medo do politicamente correto e da
repressão, que o cristianismo é a base superior de uma convivência
pacífica entre os indivíduos. É, de fato, uma cultura superior. Não ouso
dizer que é uma cultura superior.
Para quem ainda não tomou conhecimento, foi julgado semana passada que as escolas públicas brasileiras podem ter ensino religioso confessional.
Isso
foi discutido num processo que correu no Supremo Tribunal Federal. Os
ministros decidiram que o ensino religioso brasileiro, em escolas
públicas, pode ser dedicado para além do conhecimento. Podem ser
ministradas aulas de confissão religiosa. A matrícula continua sendo
facultativa. Isso porque a Constituição Federal assim o determina. Em
conclusão, o que o Supremo Tribunal Federal decidiu foi manter o que a
Constituição Federal já traz escrito em seu texto.
Tal
decisão choca a modernidade como um todo. Choca aqueles que lutam
contra o preconceito religioso. Choca também o politicamente correto, ou
seja, aqueles que se dizem neutros. Dizem-se sem opiniões formadas, os
que, para não se sentirem prejudicados ou por receio de olhares de
desconfiança do alheio, mostram-se em cima do muro.
Por
questão de lógica que todos querem uma sociedade sem preconceitos, não é
mesmo? É o desejo de todo ser humano que as pessoas sejam tratadas de
forma isonômica, sem discriminações. Por isso que a modernidade vê que
tal decisão é discriminatória, por entender que ela privilegiou o
cristianismo. Dizem que o cristianismo é a religião de costume do ensino
brasileiro, não havendo lugar para outras nas escolas públicas e também
na cultura.
Por
mais que isso possa parecer um pouco verdadeiro, não é bem assim que as
coisas acontecem e existem razões mais, digamos, profundas do que esse
arremedo sociológico de conclusão apressada de quem está quase perdendo o
bonde de volta para casa, depois de um dia de trabalho entediado (pois,
creio, é assim que a modernidade vê a vida passar, sem razão aparente
para uma existência mais séria do que o material).
Ora,
o que o Supremo Tribunal Federal decidiu, e com base na Constituição
Federal, valendo repetir, é que o ensino de religião de forma
confessional, além de facultativo, não é direcionado para qualquer
religião especificamente.
Então,
um primeiro ponto, é que não é só cristianismo que pode ser ministrado.
Outras religiões também. Ponto para o pluralismo, ao contrário do que
ainda relutam em admitir os que foram avessos à decisão do tribunal. Um
segundo ponto, e aqui é o mais importante, é que tal decisão se afigura
mais uma defesa do cristianismo do que um ataque seu. Isso merece ser
melhor explicado.
É
sabido por todos os quatro cantos do mundo que o cristianismo vem sendo
atacado de morte. Querem banir, excluir, eliminar o cristianismo de
nossa cultura e da religião; enfim, do próprio pensamento ocidental como
um todo. Essa eliminação não é por outro motivo senão para deixar em
seu lugar algo pernicioso, nocivo, mortífero mesmo. Deixar em seu lugar
algo que já está sendo ministrado em sala de aula, em cursos de
faculdade, nas telinhas da Globo, nos jornais impressos, nas mídias
sociais. Enfim, na mídia em geral. A cultura que está sendo impregnada,
inclusive em nossas crianças, é do tipo libertina. Querem fazer do
ser humano um mero objeto antinatural de viver, sem freios morais, sem
responsabilidades, do tipo hedonista, desprezando a Lei do Certo e do
Errado, nossa lei da natureza humana.
Buscando
na filosofia moral de tempos passados, o cristianismo foi um dos
precursores de nossa lei moral. Ocorre que pensadores que vieram tanto
antes quanto depois de Cristo começaram a manipular a mente humana em
favor do ceticismo, para não acreditarmos em mais nada, nem no ar que
respiramos, nem na própria vida que temos.
O
pai do ceticismo foi Pirro, filósofo máximo do descrédito. Nietzsche
chegou a proclamar a morte de Deus, para sua tentativa de cultura para
além do bem e do mal. Enfim, outros seguiram nessa caminhada diabólica,
que culminou hoje com o que temos de mais covarde e hediondo (lembrando a
exposição Queermuseu, do Banco Santander, apenas para ilustrar). O que
se pretende hoje é eliminar o cristianismo como nosso freio moral e a
figura de Jesus como modelo de homem a ser seguido.
Se
não fosse permitida a continuação do ensino confessional em escolas
públicas, como vem ocorrendo na realidade brasileira, seria o mesmo que
autorizar a diluição do cristianismo em vários segmentos
pseudo-religiosos ou culturais que mais se assemelham ao anticristo. Por
isso que sempre digo que a diversidade religiosa não é problema. O
problema é a diversidade com a exclusão do cristianismo. Um imaginário
totalitário nunca olha para o outro, sempre enxergando somente a si
mesmo e à sua própria realidade.
Por Sérgio Renato de Mello
Defensor Público do Estado de Santa Catarina.
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