Segundo o Prof. Dr. Mendonça, que foi um exímio pesquisador do protestantismo e especificamente do protestantismo brasileiro, enquanto na Europa e nos Estados Unidos os cristãos católicos e não-católicos se auto-identificam como cristãos, sendo secundária a identificação pelo ramo a que pertencem, no Brasil, assim como em toda a América Latina, a auto identificação protestante e denominacional tem sido fundamental . Este fato tem uma história.
Como julgo este tema interessante e curioso, compartilho neste breve artigo sobre quais circunstâncias surgiram os termos e seus significados naquele momento.
CRISTÃO: Esta expressão já é citada na Bíblia (At 11.26; 26.28; 1Pe 4.16). Segundo alguns estudiosos do Novo Testamento este termo já era usado desde 44 d.C. quando ocorreu os eventos narrados no texto de At 11.26. Outro texto que demonstra a utilização do termo no 1séc é At 26.28, quando , o Rei Herodes Agripa II, a maior autoridade do local, disse a Paulo: "Por pouco me persuades a me fazer cristão." — At 26:28. Portanto, desde Antioquia da Síria (44 d.C.) aqueles que seguem a Cristo podem ser chamados de cristãos.
PROTESTANTE: Este termo vem do alemão e significa declaração pública de protesto, foi utilizado pelos príncipes luteranos contra a decisão da Dieta de Speyer de 1529, que reafirmou o Édito de Worms de 1521, banindo as 95 teses de Lutero. Ele não foi aplicado aos reformadores propriamente ditos, mas ao movimento que foi crescendo e protestando contra a Igreja oficial. Este termo foi ganhando um forte acento pejorativo e preconceituoso por parte do catolicismo.
EVANGÉLICO: Termo cunhado pelo movimento evangelical. Este movimento surgiu no início do século XIX na Europa e depois se expandiu para os Estados Unidos. Ele foi uma reação frente expansionismo ultramontanista católico. Diante dessa força católica os protestantes se uniram através de ligas e alianças no propósito de fortalecer alguns princípios doutrinários comuns que os ajudasse a combater esse movimento. Pode-se chamar de uma “frente unida” evangélica. A auto-identificação de “evangélico” era individual e significava o compromisso da pessoa com esse conjunto de princípios doutrinários. Antes do indivíduo pertencer a uma denominação, ele era “evangélico”.
CRENTE: Diferentemente do que muitos possam imaginar que esta expressão signifique aquele que crê, no contexto do protestantismo brasileiro ela tem um significado sectarista e preconceituoso. Foi introduzida pelos missionários norte-americanos (protestantismo de missão) que para identificar as pessoas que iam aderindo às suas denominações, diziam este agora é verdadeiramente crente. Ou seja, era aquele que, abandonando suas antigas crenças e práticas religiosas (catolicismo), “convertiam-se” verdadeiramente às novas doutrinas.
Ainda que estes termos tenham seus significados específicos e um momento histórico definido, parece haver uma interpretação que movimenta o interior de nossas comunidades e alimenta o senso comum. Atrevo-me a dizer que muitos definem assim as expressões:
CRISTÃOS:
CONCEITO – os que seguem a Cristo.
PROTESTANTE:
CONCEITO - São as igrejas mais históricas (antigas);
PRECONCEITO – São aqueles que protestam contra Deus.
EVANGÉLICO:
CONCEITO – Aqueles que seguem o evangelho;
PRECONCEITO – São os crentes da classe média.
CRENTE:
CONCEITO – Aqueles que crêem;
PRECONCEITO – Evangélicos pobres.
Os termos precisam ser entendidos a partir de seu contexto (sitz in leben) e valorizado. Por isso, a pessoa pode-se se considerar um cristão, protestante, evangélico, crente e (metodista, presbiteriano, assembleiano, etc). A pessoa trás em si a tradição de muitos movimentos. Portanto, se bem entendidos e utilizados, estes conceitos muito podem nos ajudar. Espero ter ajudado um pouco.
Fonte:http://paulodiasnogueira.blogspot.com.br/
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