O papel do pastor na conscientização política da Igreja
O Brasil se prepara para as eleições. Em outubro, milhões de brasileiros irão às urnas para escolher os governantes e os legisladores do país. Diante de tamanha responsabilidade para com o futuro de nossa nação se faz necessário e imprescindível fazer uso da “consciência política”.
Na formação e articulação desta “consciência política”, o pastor tem papel preponderante. Como guia responsável pela orientação da igreja é sua missão alertar, informar e esclarecer a membresia. A igreja deve ser educada na doutrina bíblica e também sobre as questões debatidas no Congresso Nacional e Poder Executivo que afrontam o Evangelho de Cristo.
Apesar de a conscientização política estar florescendo, ainda existe na igreja, focos de resistência. Não poucos crentes são contrários ao envolvimento ou a posição pastoral em relação à política. Acreditam que a igreja não pode comprometer-se com o poder temporal sob o risco dos escândalos. Reconheço que existem líderes oportunistas desprovidos da ética que querem levar vantagens de ordem pessoal. Este comportamento deplorável acaba por expor a igreja à vergonha e ao escárnio público. Porém, não é por causa de uma ou mais frutas podres que vamos recusar a cesta toda.
Como a igreja está engatinhando neste mister, cabe ao pastor o uso de sabedoria, cautela, diplomacia e prudência. É importante levar em consideração o aspecto cultural e o grau de instrução da membresia. Suas convicções devem ser ouvidas e respeitadas. Qualquer persuasão só pode ser levada em efeito sob a autoridade das Escrituras.
A conscientização deve partir do pressuposto que somos discípulos de Cristo e devemos andar como Ele andou (1Jo 2.6). Neste caso, é de bom alvitre, perguntar: “Em nossos passos, que faria Jesus?” Será que Cristo apoiaria partidos políticos envolvidos em corrupção e contrários aos valores cristãos? Será que Cristo votaria em candidatos ficha suja? Cristo faria aliança com políticos favoráveis à liberação da maconha, ao aborto e a homossexualidade?
Cumpro com alegria a nobre missão de pastorear na capital do Brasil. A cultura da cidade é politizada. Os crentes estão familiarizados com as manobras políticas, Estão informados e atualizados com as questões políticas que envolvem ou afrontam a igreja. Como pastor, não tenho dificuldades em apontar o caminho do bom senso e da ética cristã. No entanto sou consciente que esta realidade não se coaduna entre os evangélicos distantes dos conflitos políticos.
Em virtude desta realidade, às vezes os cristãos ficam receosos de que a politização da igreja possa retardar o cumprimento das profecias. Eles perguntam com sincera preocupação: “Não está profetizado que a iniqüidade vai se multiplicar?”. Ao que respondo, alicerçado no Sermão da Montanha: “Sim, mas enquanto a igreja estiver na terra, temos que oferecer resistência à iniqüidade” (Mt 5.13,14).
Assim, para cumprir o seu papel e vencer suas batalhas a igreja deve estar consciente do confronto espiritual e dos ardis de Satanás. Não podemos ignorar que o mundo jaz no maligno (1Jo 5.19) e que temos o compromisso de ser o sal da terra (Mt 5.13). O mundo ainda não se afundou no lamaçal de miséria moral e na calamidade da insegurança por conta da forca restringidora do Espírito Santo que habita na igreja (2Ts 2.7).
É a igreja de Cristo que detém a espada do juízo divino sobre os moradores da terra. As advertências bíblicas sobre o papel do povo de Deus na restauração da nação incluem clamor e consagração: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (2Cr 7.14).
Como já escrevi em outra postagem, levanto a bandeira da conscientização política e do voto consciente. Sou favorável a mobilização evangélica e entendo que o Pastor deve divulgar sua posição coerente com o evangelho. No entanto, lembro que nossa luta não é contra a carne e o sangue (Ef 6.12).
As lideranças devem orientar e conscientizar a igreja politicamente. E ao mesmo tempo, precisam promover o despertamento e o avivamento espiritual. O avivamento liderado por John Wesley (1703-1791), por exemplo, trouxe radicais mudanças sociais na Inglaterra. É preciso ter consciência que o mal a ser combatido é o pecado. Quando a igreja passar a viver e priorizar integralmente os valores do evangelho então viveremos um tempo de mudanças.
Por isso, quando as mensagens nos púlpitos das igrejas deixarem de ser de auto-ajuda e o arrependimento voltar a ser pregado, então vidas serão transformadas. O Espírito Santo terá liberdade para convencer os ouvintes da verdade, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Isto acontecerá quando a igreja se recusar a ser um clube de encontros e tornar-se um lugar de adoração. Pecados serão confessados e abandonados. A velha natureza será substituída. Haverá radical transformação e o caráter será revestido “do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.24).
Quando as lideranças deixarem de se preocupar com o crescimento numérico desprovido de qualidade. Quando a disputa por audiência ou por poder for deixada de lado. Quando os embates para conquistar igreja maior e mais rica forem abandonados. Quando o foco for ajustado para a unidade do corpo de Cristo (Jo 17.21). Quando os crentes começarem a viver para a glória de Deus (1Co 10.31). Quando a ortodoxia cristã for defendida e proclamada (Jd 1.3). Então será possível o verdadeiro avivamento espiritual.
Deste modo nossa nação sofrerá transformações sociais e espirituais. Os crentes terão consciência de seu papel na terra. Jamais concordarão com erro e o pecado. Em hipótese alguma votarão em partidos ou políticos corruptos contrários ao evangelho. E acima de tudo o nome do Senhor será glorificado: “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem”. (1Pe 2.12).
Reflita acerca disto!
Pr. Douglas Baptista
Fonte: CPADnews
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