Porta-voz do Estado Islâmico, o sírio Shaykh Abu Muhammad al-Adnani divulgou mensagem em vídeo na internet provocando os EUA e sua coalizão de aliados
O grupo autodenominado Estado Islâmico expressou com todas as letras que não apenas não teme um enfrentamento em terra contra tropas americanas no Iraque e na Síria, como na verdade se alegraria nessa situação.
Em uma mensagem de 32 minutos publicada na internet, o principal porta-voz do EI, o sírio que adotou o nome de Shaykh Abu Muhammad al-Adnani, ridicularizou os recentes ataques aéreos americanos e os esforços do presidente Barack Obama para costurar uma coalizão internacional contra a milícia extremista islâmica.
"É só isso que podem fazer?", alfinetou, dirigindo-se ao presidente Obama. "Os Estados Unidos e seus aliados são incapazes de nos enfrentar aqui em terra?"
Os ataques aéreos americanos e de aliados estão causando sérios danos ao EI, que não pode oferecer resposta militar efetiva contra eles. Portanto, faz sentido que a organização prefira que os EUA se comprometam com tropas no campo de batalha.
"Eles estão desejando um conflito com o Ocidente", diz o diretor do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, em Londres, Peter Neuman.
"Os vídeos de execuções [de reféns ocidentais] eram isca para provocar uma reação excessiva. No momento em que botas ocidentais pisam o terreno, tudo se transforma na velha narrativa do Ocidente contra o Islã, e eles podem alegar que estão lutando contra a ocupação", argumenta o especialista.
Alá nos deu suas armas
Após um rápido avanço pelo norte e oeste do Iraque em junho, em que conquistou cidade após cidade, o EI capturou Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, com sua estratégica represa, e ameaçou tomar a capital curda de Irbil.
Mas, desde então, os ataques aéreos americanos em apoio a forças terrestres curdas contiveram o avanço do grupo.
Na semana passada, a Força Aérea Francesa passou a engrossar os ataques lançados a partir da base aérea dos Emirados Árabes Unidos.
A Austrália anunciou que vai enviar um esquadrão de caças Super Hornet, enquanto o Reino Unido aprovou na sexta-feira o envolvimento de suas forças armadas nos ataques no Iraque com seis aviões Tornado.
Além disso, um grupo de países tem fornecido armas e munições para as forças que enfrentam o EI.
Mas o porta-voz do EI menosprezou esses fatos, lembrando aos EUA que, durante sua campanha no Iraque, o grupo havia tomado uma grande quantidade de armamentos modernos americanos fornecidos ao Exército iraquiano --que fugiu para evitar os enfrentamentos.
"Enviem armas e equipamentos para seus agentes e cães; enviem-nas em grande quantidade, pois vão acabar como espólios de guerra em nossas mãos", disse o líder extremista.
"Vejam os seus veículos blindados, máquinas, armas e equipamentos: estão em nossas mãos. Alá nós concedeu e vamos enfrentá-los com eles."
Enfrentamento inevitável?
Os analistas acreditam que o enfraquecido e desmoralizado Exército iraquiano seja incapaz de enfrentar o EI por conta própria.
Por isso, tem-se especulado que tropas de combate americanas tenham de retornar para o país do qual se retirou em 2011, o que seria um pesadelo político para o presidente Barack Obama.
Obama, David Cameron (premiê do Reino Unido) e outros líderes ocidentais têm dito publicamente que não haverá "botas no chão", apesar de quase mil soldados americanos permanecerem no Iraque.
Mas vários analistas políticos e militares, incluindo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que levou o país à guerra contra Saddam Hussein em 2003, ao lado do americano George W. Bush, opinam ser impossível erradicar o EI sem uma ofensiva terrestre.
Para o porta-voz do EI, "eles [os ocidentais] vão pagar o preço quando enviarem seus filhos para lutar contra nós e eles retornarem amputados, ou em caixões ou com problemas mentais".
Para o grupo extremista, os benefícios potenciais de enfrentar tropas ocidentais no chão são óbvios.
Pelo menos teriam a oportunidade de confrontar soldados cara a cara, contando com o impacto da propaganda negativa que a guerra teria sobre os cidadãos ocidentais.
Acima de tudo, um conflito regional que hoje é predominantemente de muçulmanos entre si, se tornaria uma espécie de jihad global contra o Ocidente, o que possivelmente atrairia simpatizantes para o grupo e elevaria a sua capacidade de recrutar guerrilheiros.
BBC BRASIL
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